Cristóbal Balenciaga chegou a ser coleccionador de arte e amigo de artistas. Talvez por isso nunca tenha faltado inspiração ao estilista espanhol mais admirado e influente de todos os tempos. A pintura, o poder da igreja católica, a tauromaquia, o flamenco, e outras referências da cultura espanhola, con mucho salero, marcaram a obra do designer, que estabeleceu com maestria, o paralelismo entre mundos diferentes mas transversais. O da costura e dos pincéis é um exemplo, e a exposição temporária “Balenciaga e a cultura espanhola” retratou essa relação nas salas imensas do Museu Nacional Thyssen-Bornemisza, em Madrid. Propôs duas viagens no tempo: uma à vivência da época de Balenciaga e outra à da época da pintura espanhola entre os séculos XVI e XX. Na prática, criou-se “uma conversa entre arte e moda” - palavra do curador Eloy Martínez de la Pera. No interior do museu conviveram, lado a lado, 55 obras históricas de mestres da pintura espanhola, e dezenas de peças de alta-costura do estilista, algumas delas nunca antes vistas. Um universo visual, sedutor e intimista, tornado possível graças ao envolvimento de coleccionadores privados, nacionais e internacionais, e de vários museus espanhóis.

A influência do negro na obra de Balenciaga foi um fio condutor da exposição, e realçou a forma como este se inspirou nas linhas simples e minimalistas dos hábitos religiosos, retratados por Goya, nas volumetrias teatrais pintadas em outro século, por Francisco de Zurbarán, no retrato da rainha Isabel de Aragão, nos folhos do vestido de Doña María del Rosario de Silva y Gurtubay, XVII duquesa de Alba, pintados por Ignacio Zuloaga, ou no bolero matador de Julia Peraire, a amante de Ramón Casas Carbó, retratada pelo próprio. Velázquez e El Grego também rimam com as criações de Balenciaga. Tiveram uma sala própria, e juntos fizeram desta, uma exposição impar, onde foi possível ver o vestido de noiva da neta do general Francisco Franco, Carmen Martínez-Bordiú, o último que o estilista coseu no período que antecedeu a sua partida para a reforma, em 1968. Antes, Balenciaga teve de abandonar Espanha e rumar a Paris, onde realizou o primeiro desfile, tornando-se num dos grandes da moda mundial. Tão grande que outros prestigiados estilistas se renderam ao talento de Cristóbal.

 

 

 

 

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